13 de outubro de 2015

Mania de poeta


Poeta tem mania de tudo observar em um tom de sensibilidade, como não estamos mais na moda, cada vez que escrevemos algo, a tendência é de achar que estamos sendo ranzinzas, chatos, irreverentes sem razão, ou até mesmo mandando algum tipo de indireta para alguém.
Já não se pode expressar sensações, a maioria se esqueceu do que seja o famigerado "eu lírico", acreditam que estamos passando por uma crise de depressão, ou que acordamos de "ovo virado", como dizia minha mãe.
Não é de estranhar que, quando escrevemos, logo em seguida vem uma pergunta: "O que foi, tá tudo bem?"
"Tudo bem", sabemos que não está, mas por favor, deixa o poeta poetar.Ele, de alguma forma tem ali no peito uma angústia desenfreada, um eterno sentimento do mundo, uma lágrima constante, uma irreverência nata e nunca tão mal compreendida como atualmente, época em que pouco escrevemos, pouco registramos nossas memórias( lembram-se dos diários?). Sim, eu tive um e minha timidez, minha angustiante sensibilidade ali podia se expressar. Tomava formas, cores, tinha lá um caráter mágico do livramento, ali se instalava um pouco da torturante solidão que me sufocava. Ali traçava os caminhos da janela da alma.
Talvez tenha nos faltado um pouco essa livre expressão, em tempos em que não se pode falar, ainda que propagem que a comunicação está aberta, livre, solta.
Está não...cada dia, há mais angustiantes lembranças, cada dia uma memória da vaga simplicidade fica perdida, assim configuramos um mundo de muitos canais de digitação, de selfies, de olás formalizados, mas que não desejamos que sejam respondidos. Mandamos uma carinha, um emoji, um aceno anônimo.
Admirável mundo novo.
Fernanda Luz

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