31 de maio de 2009

Resista




Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejem
e que sua coragem esteja cochilando.

Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais.

Resista mais um instante, mesmo que a derrota seja um imã,
mesmo que a desilusão caminhe em sua direção.

Resista mais um pouco, mesmo que os invejosos digam para você parar,
mesmo que a sua esperança esteja no fim.

Resista mais um momento, mesmo que você não possa avistar ainda
uma linha de chegada, mesmo que as inseguranças
brinquem de roda à sua volta.

Resista um pouco mais, mesmo que a sua vida esteja sendo pesada
como a consciência dos insensatos e você se sinta indefeso
como um pássaro de asas quebradas.

Resista porque o último instante da madrugada
é sempre aquele que puxa a manhã pelo braço
e essa manhã bonita, ensolarada, sem algemas,
nascerá para você em breve desde que você resista.

Resista porque estamos sentados na arquibancada do tempo,
torcendo ansiosos para que você vença
e ganhe de DEUS o troféu que você merece:


Autor Desconhecido -

Espiritualidade, dimensão esquecida e necessária por Leonardo Boff


Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional, transmitida pela cultura dominante. Esta afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria (ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências do humano). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica de materia e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.

1. Espiritualidade concerne ao todo ou à parte?
Espiritualidade, nesta segmentarização, significa cultivar um lado do ser humano: seu espírito, pela meditação, pela interiorização, pelo encontro consigo mesmo e com Deus. Esta diligência implica certo distanciamento da dimensão da matéria ou do corpo.

Mesmo assim espiritualidade constitui uma tarefa, seguramente importante, mas ao lado de outras mais. Temos a ver com uma parte e não com o todo.

Como vivemos numa sociedade altamente acelerada em seus processos históricos-sociais, o cultivo da espiritualidade, nesse sentido, nos obriga a buscar lugares onde encontramos condições de silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização.

Esta compreensão não é errônea. Ela contem muita verdade. Mas é reducionista. Não explora as riquezas presentes no ser humano quando entendido de forma mais globalizante. Então aparece a espiritualidade como modo- de-ser da pessoa e não apenas como momento de sua vida.

Antes de mais nada importa enfatizar fato de que, tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos “totalidade” significa que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltipas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.

2. A exterioridade humana: a corporeidade
A exterioridade é tudo o que diz respeito ao conjunto de relações que o ser humano entretém com o universo, com a natureza, com a sociedade, com os outros e com sua própria realidade concreta em termos de cuidado com o ar que respira, com os alimentos que consome/comunga,com a água que bebe,com a roupas que veste e com as energias que vitalizam sua corporeidade. Normalmente se entende essa dimensão como corpo. Mas corpo não é um cadáver. É o próprio ser humano todo inteiro mergulhado no tempo e na matéria, corpo vivo, dotado de inteligência, de sentimento,de compaixão, de amor e de êxtase. Esse corpo total vive numa trama de relações para fora e para além de si mesmo. Tomado nessa acepção fala-se hoje de corporeidade ao invés de simplesmente corpo.

3. A interioridade: a psiqué humana
A interioridade é constituída pelo universo da psiqué, tão complexo quanto o mundo exterior, habitado por instintos, pelo desejo, por paixões, por imagens poderosas e por arquétipos ancestrais. O desejo constitui, possivelmente, a estrutura básica da psiqué humana. Sua dinâmica é ilimitada. Como seres desejantes, não desejamos apenas isso e aquilo. Desejamos tudo e o todo. O obscuro e permanente objeto do desejo é o Ser em sua totalidade. A tentação é identificar o Ser com alguma de suas manifestações, como a beleza, a posse, o dinheiro, a saúde, a carreira profissional e a namorada, o namorado, os filhos, assim por diante. Quando isso ocorre, surge a fetichização do objeto desejado. Significa a ilusória identificação do absoluto com algo relativo, do Ser ilimitado com o ente limitado. O efeito é a frustração porque a dinâmica do desejo de querer o todo e não a parte se vê contrariada. Daí, no termo, predominar o sentimento de irrealização e, consequentemente, o vazio existencial.

O ser humano precisa sempre cuidar e orientar seu desejo para que ao passar pelos vários objetos de sua realização – é irrenunciável que passe - não perca a memória bemaventurada do único grande objeto que o faz descansar, o Ser, o Absoluto, a Realidade fontal, o que se convencionou chamar de Deus. O Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões, mas o Deus da caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo, aquela dimensão sagrada em nós, inegociável e intransferível. Essas qualificações configuram aquilo que, existencialmente, chamamos de Deus.

A interioridade é denominada também de mente humana, entendida como a totalidade do ser humano voltada para dentro, captando todas as ressonâncias que o mundo da exterioridade provoca dentro dele.

4. A profundidade: o espírito
Por fim o ser humano possui profundidade. Tem a capacidade de captar o que está além das aparências, daquilo que se vê, se escuta, se pensa e se ama. Apreende o outro lado das coisas, sua profundidade. As coisas todas não são apenas coisas. Todas elas possuem uma terceia margem. São símbolos e metáforas de outra realidade que as ultrapassa e que elas recordam, trazem presente e a ela sempre remtem.

Assim a montanha não é apenas montanha. Em sendo montanha, traduz o que significa majestade. O mar evoca grandiosidade; o céu estrelado, infinitude; os olhos profundos de uma criança, o mistério da vida humana e do universo.

O ser humano capta valores e significados e não apenas fatos e acontecimentos. O que definitivamente conta não são as coisas que nos acontecem, mas o que elas significam para a nossa vida e que experiências elas nos propiciam. As coisas, então, passam a ter caráter simbólico e sacramental: nos recordam o vivido e alimentam nossa interioridade. Não é sem razão que enchemos nossa casa ou o nosso quarto de fotos, de objetos queridos dos pais, dos avós, dos amigos, daqueles que entraram em nossa vida e significaram muito. Pode ser o último toco de cigarro do pai que morreu de enfarte ou o pente de madeira da tia que morreu ou a carta emocionada do namorado que revelou seu amor. Aqueles objetos não são mais objetos. São sacramentos, pois falam, recordam, tornam presente significados, caros ao coração.

Captar, desta forma, a profundidade do mundo, de si mesmo e de cada coisa constitui o que se chamou de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele momento da conscicência mediante o qual captamos o significado e o valor das coiss. Mais ainda, é aquele estado de consciência pelo qual apreendemos o todo e a nós mesmos como parte e parcela deste todo.

O espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade. “Tu és isso tudo” dizem os Upanishads da India, apontando para o universo. Ou “tu és o todo” dizem os yogis. “O Reino de Deus está dentro de vós” proclama Jesus. Estas afirmações remetem a uma experiência vivida e não a uma doutrina. A experiência é que estamos ligados e re-ligados uns aos outros e todos à Fonte Originante. Uma fio de energia, de vida e de sentido perpassa a todos os seres, constituindo-os em cosmos e não em caos, em sinfonia e não disfonia.

A planta não está apenas diante de mim. Ela está como ressonância, símbolo e valor dentro de mim. Há em mim uma dimensão montanha, vegetal, animal, humana e divina. Espiritualidade não consiste em saber disso, mas em vivenciar e fazer disso tudo conteúdo de experiência. Bem dizia Blaise Pascal: “ crer em Deus não é pensar em Deus mas sentir Deus”. A partir da experiência tudo se transfigura. Tudo vem carregado de veneração e de sacralidade.

A singularidade do ser humano consiste em experimentar a sua própria profundidade. Auscultando a si mesmo percebe que emergem de seu profundo apelos de compaixão, de amorização e de identificação com os outros e com o grande Outro, Deus. Dá-se conta de uma Presença que sempre o acampanha, de um Centro ao redor do qual se organiza a vida interior e a partir do qual se elaboram os grandes sonhos e as significações últimas da vida. Trata-se de uma energia originária, com o mesmo direito de cidadania que outras energias como a sexual, a emocional e a intelectual.

Pertence ao processo de individuação acolher esta energia, criar espaço para esse Centro e auscultar estes apelos, integrando-os no projeto de vida. É a espiritualidade no seu sentido antropológico de base. Para ter e alimentar espiritualidade a pessoa não precisa professar um credo ou aderir a uma instituição religiosa. A espiritualidade não é monopólio de ninguém, mas se encontra em cada pessoa e em todas as fases da vida. Essa profundidade em nós representa a condição humana espiritual, aquilo que designmos espiritualidade.

Obviamente para as pessoas religiosas, esse Centro é Deus e os apelos que dele derivam é sua Palavra. As religiões vivem desta experiência. Articulam-na em doutrinas, em ritos, celebrações e em caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial reside em criar e oferecer condições para que cada pessoa humana e as comunidades possam fazer um mergulho na realidade divina e fazer a sua experiência pessoal de Deus.

Essa experiência porque é experiência e não doutrina tem como efeito a irradiação de serenidade, de profunda paz e de ausência do medo. A pessoa sente-se amada, acolhida e aconchegada num Utero divino, O que lhe acontecer, acontece no amor desta Realidade amorosa. Até a morte é exorcizada em seu caráter de espantalho da vida. É vivida como parte da vida, como o momento alquímico da grande transformação para poder estar, de fato, no Todo e no coração de Deus.

Esta espiritualidade é um modo de ser, uma atitude de base a ser vivida em cada momento e em todas as circunstâncias. Mesmo dentro das tarefas diárias da casa, trabalhando na fábrica, andando de carro, conversando com os amigos, vivendo a intimidade com a pessoa amada, a pessoa que criou espaço para a profundidade e para o espiritual está centrado, sereno e pervadido de paz. Irradia vitalidade e entusiasmo, porque carrega Deus dentro de si. Esse Deus é amor que no dizer do poeta Dante move o céu, todas as estrelas e o nosso próprio coração.

Esta espiritualidade tão esquecida e tão necessária é condição para uma vida integrada e singelamente feliz. Ela exorciza o complexo mais dificil de ser integrado: o envelhecimento e a morte.

Para a pessoa espiritual o envelhecer e o morrer pertencem à vida, não matam a vida, mas transfiguram a vida, permitindo um patamar novo para a vida. Assim como ao nascer, nós mesmos não tivemos que nos preocupar, pois, a natureza agiu sabiamente e o cuidado humano zelou para que esse curso natural acontecesse, assim analogamente com a morte: passamos para outro estado de consciência sem nos darmos conta dessa passagem. Quando acordamos nos encontraremos nos braços aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam. Cairemos em seus braços. E então nos perdemos para dentro do amor e da fonte de vida.


Leonardo Boff

Deve chamar-se tristeza



Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.


Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.


Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.


Fernando Pessoa

26 de maio de 2009

Sabedoria de Chico Xavier


Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.

Que eu não perca o OTIMISMO, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.

Que eu não perca a vontade de VIVER, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...

Que eu não perca a vontade de ter grandes AMIGOS, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...

Que eu não perca a vontade de AJUDAR as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.

Que eu não perca o EQUILÍBRIO, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.

Que eu não perca a VONTADE de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...

Que eu não perca a LUZ e o BRILHO no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...

Que eu não perca a GARRA, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.

Que eu não perca a RAZÃO, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.

Que eu não perca o sentimento de JUSTIÇA, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.

Que eu não perca o meu forte ABRAÇO, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...

Que eu não perca a BELEZA e a ALEGRIA de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...

Que eu não perca o AMOR por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.

Que eu não perca a vontade de doar este enorme AMOR que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.

Que eu não perca a vontade de ser GRANDE, mesmo sabendo que o mundo é pequeno... E acima de tudo...

Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois.... a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

Ser Diferente: Artur da Távola




Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.

Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros que riem de inveja de não serem assim.

O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas..... Esperanças, mortas.

Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem.

Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride.

O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual, a inveja do comum, o ódio do mediano.

O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.

O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos, por omissão, se unem para transformar o que é potencial em caricatura. O que é percepção aguçada em: "puxa, fulano, COMO VOCÊ É COMPLICADO".

O que é o embrião de um estilo próprio em: "você não está vendo como todo mundo faz?"

O diferente carrega desde cedo apelidos que acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.

Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno, agridem e gargalham.

É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha ou de malícia .

Artur da Távola * Alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. E....nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são CAPAZES.
Presente de minha amiga Cezarina Devos

22 de maio de 2009

Bons amigos



Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


Machado de Assis

Olhos Ciganos


Tenho os olhos da cor da paisagem,
De mata e poeira,
Onde me doem as saudades de claros riachos
Que banharam meu rosto em outrora
E cuja água mansa apanhei com as mãos,
Como uma criança sedenta de vida.
Lembro-me que fui fecunda e luminosa;
Que me viram nua mornos lençóis de cambraia;
Que me foi mãe carinhosa a manta de estrelas
Em noites de estradas de terra, sem fim...
Que em tendas de esperança
Dormiu meu coração ligeiro;
Que fui égua alazã de caravana errante;
Que vivi amor pagão
Em tempos de dor e coragem...
Hoje, que me perco em ínfimos caminhos,
Por cuja posse ouvi ladrarem mil e um,
Fito meus olhos ciganos
Adivinhando o futuro num caco de espelho
No intento de ver se eu sou a que me segue
Ou se a que me arrasta.


Desconheço o autor!

Feitiço



Te jogo meu feitiço
na renda da minha saia
danço infrene em teu sonho
perfumo teu corpo com canela
afio tua lança
desembainho teu punhal
não há guerreiro que me negue seu descanso
não há sequer um rei
que não conceda seu trono a mim
me enfeito com meu ouro
deslizo as pulseiras em teu lombo
beba da minha taça
te afogues em meu desejo
audaz, vem manso, te possuo
esqueirando-se no meu altar de colina
prova do meu manjar divino
então, vem, vem dançar
neste frenesi de Baco
te entrega
nega teu deus algoz
vem, te entrega
queima teu desejo
te abandona nos meus braços
Vem...
que te ensino minha dança
ignoro teus mandatos
digo que a Lua te pertence
vem porque apenas te chamo
te quero quando quero
te possuo assim
mentindo que és meu dono...


Fernanda Luz

Agua caliente


E assim me chegas caliente
perfume de terra lavrada
deita-me na alcova sedento
arranca-me à sova o vestido
carmim, vermelho rubi
me canta teu canto cigano
das terras onde nasci
me sopras sereno o desejo
do corpo da alma kalin
lançado faminto em teu sonho
cabelo cheirando a jasmin
me entrego a ti, sorrateira
zombando e gritando por ti
na névoa de perfume morocho
bochorna de água caliente


Fernanda Luz

Fados cruzados


Nem Às Paredes Confesso
Composição: F. Trindade / M. de Souza / A. Ribeiro

Não queiras gostar de mim sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim eu não mereça
Vê se me deitas depois culpas no rosto
Eu sou sincera porque não quero dar-te um desgosto

De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar
Podes chorar
Podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso

Quem sabe se te esqueci ou se te quero
Quem sabe até se é por ti que eu tanto espero
Se gosto ou não afinal isso é comigo
Mesmo que penses que me convences nada te digo


Fado insone
Ai, que meu coração me tocou um fado deslavado
Desses que se rega a vinho,a uma noite na Mouraria
Ai, que me dói este coração além mar
Ai, que sinto teu cheiro nos lençóis de linho
Ainda que me punas, amado
Não te posso esquecer
Ainda que me negues
Te relembro assim, coração despedaçado.
Rastreando teus passos lejanos
Ai, que me toca esse furor
Esta febre amantíssima
Que me ferve a alma
Que deixa meu corpo trêmulo
Ai, que nem a água do Tejo me lava a alma...
Nem bons ventos me apagam
Os castiçais de teus olhos
Nem a boca olvida
O doce sabor de teu vinho
O intenso gosto de teu pão...

Fernanda Luz
Ilustração:José Malhoa in "Fado"

Ternura antiga:Dolores Duran



Ai, a rua escura, o vento frio
Esta saudade, este vazio
Esta vontade de chorar
Ai, tua distância tão amiga
Esta ternura tão antiga
E o desencanto de esperar
Sim, eu não te amo porque quero
Ah, se eu pudesse esqueceria
Vivo, e vivo só porque te espero
Ai, esta amargura, esta agonia

Cecilia Meireles


A maior pena que eu tenho, punhal de prata, não é de me ver morrendo, mas de saber quem me mata.
Cecília Meireles

Homenagem a Zé Rodrix, falecido hoje: 22/05/09



Casa no campo
Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais


O lirismo árcade de Zé Rodrix ecoou em minha adolescência, em que cantávamos feito cantiga de roda essa canção.Sou da geração de 60, sempre afeita às rodinhas de violão na escola.Entoávamos essa canção de coração aberto, desejando apenas esse ideal: o de ter uma casa no campo.Tempos cordialmente silenciosos, onde expressávamos em nossas vestimentas un new look hippie.Tempos em que não podíamos discutir em sala de aula política, pois a bedel, parecendo que intuía nossa discussão com a professora de História, vinha nos vigiar por aquelas janelinhas na porta da sala de aula.
E assim entoávamos essa canção, dentre outras de Beto Guedes, Sá e Guarabira, Vandré.
Hoje pulsaram em mim novamente esses momentos, vividos no início da década de 80.
Certamente, o Zé Rodrix não vai se perguntar "E agora, José?",pois acredito que tenha nutrido em si o ideal do "Carpem diem".
Elis tá aí contigo, Zé, e teus amigos já te preparam flores e festa na tua eterna morada, na tua Casa de Campo.
Fernanda Luz

14 de maio de 2009

13 de maio de 2009

Quase


Quase...
Luiz Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que lanejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Lua distante


Essa Lua ali, branda em minha janela
Ah, chegam os odores divinos do amor
Teu perfume de terra me chega
Toca minha face, beija meus lábios
Se apodendere de mim
Me mostra novamente os caminhos das estradas
Que me arrancaram ao punhal
Cura meu coração desta dor fervente
Me traz de volta à serenidade.
Toca seu canto de liberdade
Arranca de mim o véu da saudade
Me resgata a ti novamente
Me liberta desta lejania

Mensagem de Pai Benedito de Aruanda



Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso colocar seu amor em prática.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso sorrir a alguém que chora.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz não precisa mais do que seus braços e pernas.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso apenas o seu esforço próprio.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso persistir para conquistar.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que este ideal seja Cristão.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso caminhar de mãos dadas.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que compreenda mais as dificuldades.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso mais paciência perante os contratempos.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso ter fé em Deus e trabalhar pelo próximo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso dar esperança a quem já desistiu da vida.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso dar a luz do consolo aos desesperados.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que tenha conhecimento sobre si mesmo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz precisa pôr este conhecimento em sua reforma.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que ele se desprenda de si mesmo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso FAZER ALGUÉM FELIZ.
O mundo precisa de caridade!
O mundo precisa de amor!
O mundo precisa de Jesus!
O mundo precisa de você!

Presença


E me chegas de noite
Quando os ruídos se calam no abandono dos sonhos
Me envolve com tua voz suave de saudade
Me toca na pele, me acaricia as mãos...
Me faz serenar na tua alma cigana de longe
Que não pude tocar de verdade
Mas, estás, estás...
Não quero chorar quando te ouço
Não quero sentir saudades de ti
Ainda ontem reli tuas palavras de amor
E vontade de chorar, tive
O sopro de tuas palavras
O manso carinho da tua voz doce.
Sei que estás
Numa dimensão lejana
Sei que vives ainda
E que, de alguma forma estás aqui
Pude sentir as pétalas de rosas que me enviaste sobre meu corpo
Pude adormecer te ouvindo de longe
Tão perto...
Juízo não tenho para entender
Esse laço que nos atou
Ainda não entendo minha falta de coragem
Que atou meus pés que não me levaram a ti
Ainda sinto essa saudade de ontem
Ainda estou certa de nosso reencontro
Não maldigo tua partida
Pois chegaste nessas paragens estrelares antes de mim
Sim, sei que quando a Lua ilumina meus olhos
Estás também me iluminando
Sei que, em cada taça de vinho que tomo
Me adoças a boca com teu beijo
Sei que quando tomo meu punhal
Um pouco de tua força está nele
Sei que preparas meu leito junto a ti
Mas desconheço minha chegada
E como me doeu tua partida
E ainda me dói
Por vezes choro, por vezes quero esconder de mim essa tua falta.
Tua kalin permanece aqui.
Seguindo, por vezes tropeçando
Tua kalin tem força, amado
Tua kalin aprende diariamente a jogar sal na maldade
A bendizer a boa aventurança
Então,kalón
Aqui me quedo...
Nesta lembrança que me corrói...
Te deixo a rosa dos meus lábios
O perfume dos meus cabelos
O cálido toque de minhas mãos.


Fernanda Luz

Anima



A mi me regalao el core gitan
a mi me regalao el alma buyna
a mi me regalao el sangry amanti de la libertad
a mi me regalao el sognu de alegryhia
de pensar que pudo set
la misma de semper
una luna encantad
gusto de vino en la boca
miel de dulzura en el core
verytah en las palabras
kambuly en el core
vita plena
vita, soli
nim dimand, ni desdicha


Povo Cigano
Por Fernanda Luz
Pintura:Berezina Elena
http://www.art-vector.com

11 de maio de 2009

Alma de Loba



Há uma loba ferida, que sangra na noite e urra desesperada na lua cheia

Há um anjo bondoso com asas feridas, temeroso de alçar vôo sobre o leito escuro dos amantes

Há uma mulher escondida por baixo da pele morena, que ousa pulsar de desejo

Há uma fugitiva, que se esconde com medo de amar

Há uma deusa perfumada prestes a destilar seu perfume sobre a fronte dos homens vãos...

Há um sorriso pleno, que desemboca no desejo doce

Uma mancha na alma de perdição...

Há alguém, quem sabe, sedenta de beijos, mergulhada nos suspiros sufocados paridos numa noite de agosto...

Em mim se esconde a alma de uma desconhecida

Em mim se abre a concha da mais pura pérola...


Fernanda Luz

5 de maio de 2009

Dança do fogo



Oração do fogo

Sou fogo!!!!

Em todos os sentidos!

Do sol eu desço e das profundezas da Terra eu me lanço!

Derreto tudo e refaço e recombino a tudo.

Nunca estou quieto e nunca sou o mesmo.

Nos raios, nos relâmpagos, nos vulcões ou onde houver chama eu sou o brilho.

Meu brilho tem sido copiado e usado erroneamente pelos humanos.

Suas bombas e demais artefatos cospem morte!

Eu também mato! Mas só aquilo que precisa ser banido ou transformado.

Não mato por esporte e nem para mostrar a força que na verdade não tenho.

Sou forte e mesmo minha irmã Água pode sumir na minha presença se assim for necessário.

Eu sou as paixões que ardem em seus corações. Eu sou o sentimento que habita seus corações.

Sou o destemor, o espírito da aventura que faz do seu lar o coração.

Sou a coragem de ousar. Sou a chama do amor.

Sou a destruição na forma de raios ou de vulcões, por exemplo!

Eu limpo para trazer novas formas de vida. Eu queimo o que precisa ser purificado.

Sou a inspiração que os espíritos precisam.

Não sou ignorante e nem me arvoro o mais sábio dos seres. Eu não sou tolo e nem me faço passar por um.

Humanos!!!!!

Somos todos habitantes do mesmo Universo! O que os faz pensar que são os donos do mundo?

Acaso podem superar algum de nós, os elementos?

Será que não notam que jogamos seu jogo apenas para mostrar o quanto estão errados?

Será que precisarão ver a morte para redescobrir o valor da vida?

Será que nossas repetidas investidas usando seus próprios modelos de vida não os alerta?

Será que suas invenções são mais importantes do que vocês?

Será que por um acaso ainda acham que podem viver de lata? De plástico?

Será que o Criador deu-lhes este planeta para que o destruam?

Para que fabricar tanta coisa inútil que poucos utilizarão? Para aumentar o ódio?

O fogo do ódio corrói! O fogo do amor purifica!

Convoco todos os seres do fogo para que seus corações humanos voltem a brilhar!

Convoco todos os seres do fogo para que seus espíritos voltem a inspirar suas ações!

Convoco todos os seres do fogo para que purifiquem o planeta!

Em nome de todos os elementos eu convoco a todos os seres para que iluminem os seres humanos!

Faça-os perceber que seus atos os levam cada vez mais para a destruição e dor desnecessárias.

O amor ainda é o maior de todos os remédios! Amem novamente e terão suas doenças curadas!

Iluminem-se humanos!!!!!



http://br.geocities.com/buluccib/fogo.html

Bandoleiro: Ney Matogrosso



Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Não te enganarias, não te enganarias
Não te enganarias, não!
Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Feitiço, transe-viagem, alucinação

Canto Cigano por Cecília Meireles



Seus cabelos,
Balançavam com o vento.
Ela dançava,
Dançava de dia,
Dançava de tarde,
Dançava à noite.
À noite,
Enquanto os archotes brilhavam,
E punham nela muitos fulgores,
Ela sorria e sorria...
Para quem sorria?
Para ninguém.
Bastava, para ela,
Sorrir para si mesma.
Sorria...
Sufocando o pranto,
Que lhe inundava a alma.
Porque, se ela chorasse,
Todos choravam também.
E ela tinha que sorrir,
Cantar,
Dançar.
Bailando,
Como baila o vento,
Cantando,
Como cantam as aves,
Só, tão só...
E, no entanto, dona absoluta,
De todos os olhares,
De todas as mentes,
Que estavam ali.
Cada um achando,
Que era para eles que ela sorria,
Quando, na verdade,
Ela não sorria para ninguém,
Ela sorria para si mesma.
O tempo passou...
E, no vento tão forte,
Que muda a vida,
Mudando as pessoas de lugar,
Daqui para acolá.
Um dia,
Ela deixou de dançar,
Mas não deixou de cantar.
Mesmo na solidão dos pinheiros gelados,
Fazia, com os rouxinóis,
Um dueto encantado.
O rouxinol cantava de tristeza,
Ela cantava de saudade,
De dor...
Por onde andará?
Como estará a terra dos meus amores?
Aonde estarão aqueles,
Que pisam, firme, o chão?
Aonde estará o meu povo?
Será que estão como eu...
Na solidão?
Canta, cigana,
Canta...
Deixa que o vento da vida de carregue,
Que a brisa te abrace
E que as folhas te teçam harpejos,
Nos ninhos dos pássaros.
A solidão nos faz
Aprender a viver,
Dentro de nós,
Num castelo encantado.
Onde se é possível,
Chorar sozinha
E rir, feliz,
Para todos os passantes,
Caminhantes,
Andantes de muitas terras,
De muitos sonhos,
De muitas estradas.
Deixa voar,
O seu sonho de paz,
Porque, um dia, você terá.
Não chore,
Não chore, cigana,
Cante.
Porque, mesmo sem cantar,
Você encanta.
E, mesmo chorando,
Você sorri.
Deixa o tempo passar,
Deixa as folhas voarem,
Voar...
Porque, um dia,
Paz você terá!


Cecília Meireles
Arauto de Luz - Junho de 2000
Psicografia Shyrlrene Soares Campos

Bela mensagem

4 de maio de 2009

Cigana de mim


Voltei ao meu mundo, como se me parisse de novo dentro de um véu de fogo
Estou de volta, nesta ciganidade
Dona do meu mundo
Livre de apego
Aquecida na fogueira única do meu desejo
Apenas sou
Com a certeza de que sei onde piso
Na comunhão do meu povo
Ciente de quando devo prosseguir e abandonar velhos caminhos
Na certeza de que sou capaz de recomeçar sempre
Com coragem, bravura
Nesta estrada poeirenta
Onde monto meu cavalo
Mostro meu punhal para lutar
Sigo minha força ancestral
Pulsando firme e alerta

Fernanda Luz

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