19 de novembro de 2009

Resta qui



Há vezes em que amo apenas
Amo uma presença no passado
Amo uma saudade, amo,sem cobranças
Amo o momento em que me imaginei contigo
Amo a falta que me faz
Simplesmente assim
Encantada e liberta
Não me arrependo do que não fiz
Nem do que podia ter lhe dito
Em algum lugar me ouve, sei
Sei também que sua presença no meu silêncio não me assombra
E recebo tua visita de luz no meu coração
Assim, permaneces aqui
na certeza de que nos encontraremos, quem sabe
Num momentum sem relógios
Sem pressas para voltar

Fernanda Luz

9 de setembro de 2009

Reflexão: Chaplin


A vida me ensinou...A dizer adeus às pessoas que amo,
Sem tira-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostra-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros .
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me magoam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente,
Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente,
Pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba,
sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e esta me ensinando a aproveitar o presente,
como um presente que da vida recebi,
e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar,
lhe dando forma da maneira que eu escolher.

Charles Chaplin

8 de setembro de 2009

Poema: Clarice Lispector


Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre

Clarice Lispector

3 de setembro de 2009

O mestre e o escorpião


Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou.
Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água e estava se afogando de novo. O mestre tentou tirá-lo novamente e novamente o animal o picou.

Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse:
- “Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas í s vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?”

O mestre respondeu:
- “A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar”.

Então, com a ajuda de uma folha o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida.

25 de agosto de 2009

Oração da serenidade


Deus,
dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar,
coragem para mudar as coisas que eu possa,
e sabedoria para que eu saiba a diferença: vivendo um dia a cada vez,
aproveitando um momento de cada vez;
aceitando as dificuldades como um caminho para a paz;
indagando, como fez Jesus,
a este mundo pecador,
não como eu teria feito;

aceitando que Você tornaria tudo correto se eu me submetesse à sua vontade para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e extremamente feliz com você para sempre no futuro.

Amém.

Mensagem:Albert Eistein


A vida é como jogar uma bola na parede:
Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul;
Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde;
Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca;
Se a bola for jogada com força, ela voltará com força.
Por isso, nunca "jogue uma bola na vida" de forma que você não esteja pronto a recebê-la.
A vida não dá nem empresta;
não se comove nem se apieda.
Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos.


(Albert Einstein)

22 de agosto de 2009

Sitocol - Risus Atívus - A droga do século



Conceição Trucom

Descrição: SITOCOL ® Risus Atívus é um medicamento para quem deve se "tocar na vida". Ou seja, ficar mais consciente que ser feliz é aqui e agora. JÁ.

Indicações: Para aqueles que nunca estão satisfeitos, que vivem reclamando, são intolerantes, pessimistas, negativos e pretensiosos. Para aqueles que acham que a vida é só Ter e jamais Ser. Que ficam cobrando o tempo todo, mas sempre esquecem de agradecer. Aqueles que não valorizam a sua vida e não percebem que vieram realizar algo importante. Para os que vivem na ilusão de serem de outro jeito, diferente do que essencialmente são.

Indicado também para trabalhar a humildade e assentar os pés no chão. O SITOCOL ® Risus Atívus anula o hábito da comparação, e estimula o hábito da auto valorização. Seu uso contínuo desativa as atitudes de julgamento de si mesmo e dos outros, com potente aparecimento de sinais de orgulho próprio, e desativação total do vampirismo do sucesso alheio.

Precauções: Todos aqueles que costumam passar por desequilíbrios emocionais, e por longos períodos de baixo astral, poderão desenvolver vontade compulsiva de ser feliz. Pidões poderão ter crises de simancol e começar a agradecer e oferecer carinho e amor. Os insones começam a sentir desejos súbitos de sair para dançar e tomar SITOCOL ® Risus Atívus em vez de tomar calmantes.

Contra Indicações: Não devem tomar SITOCOL ® Risus Atívus aqueles que curtem ler revistas de fofoca, aqueles que não querem mudar (nasci assim e vou morrer assim), os ciumentos, aqueles que acham que amor é controlar, e aqueles que acham que o parceiro e os filhos são propriedades, e não almas livres que devem ser unicamente amadas. Uma contra indicação forte é para o caso de pessoas que já desistiram de ser feliz.

Efeitos Colaterais: O paciente pára de querer brigar com o mundo. Pára de sentir necessidade de ser vítima e de sabotar seus projetos e propostas de sucesso. Pára de deixar o seu poder nas mãos dos outros, e passa a assumir a responsabilidade de ter mais prazer de desfrutar a sua vida, trabalhar na conquista da sua paz e serenidade interna, sem delegar seu poder para ninguém.

Interrupção do Medicamento: Há registro de pacientes que regridem diante da interrupção do tratamento, culpando-se de tudo. Reativando o juiz interno que se auto cria castigos cruéis. O paciente reativa as síndromes do TENHO QUE, NÃO POSSO, IMPOSSÍVEL, DIFÍCIL, EU DEVERIA ... e do SE ... isso ou aquilo e muitas travas com o passado e o futuro. Na ausência prolongada do medicamento o paciente esquece de paquerar, namorar, brincar, fazer arte (nos dois sentidos), rir, gargalhar, ir ao teatro, cinema e principalmente viajar (em todos os sentidos).

Como guardar: Do lado esquerdo do peito. Na prateleira que diz: Eu aceito o que SOU e tudo o que vim realizar!

Composição:
- Risus Atívus
- Vitânino A (Vitalidade + Ânimo + Alegria)
- Disciplinil com 0% de priguiçuz
- Determinite agudis
- Coragins sin medoris
- Flexibilidil insanis
- Celebração baianosis
- Incondicionalis compaxis

Validade: Indeterminada. Quanto mais usar, mais antioxidante e ativo ele fica.

Modo de usar: Comece com o ra-ra-ra, re-re-re, ri-ri-ri, ro-ro-ro, ru-ru-ru e vá se auto contagiando com a vontade de Ativar o Risus. Para ação mais imediata, pule, dance, fique alegre, olhe-se no espelho, que ele se misturará mais rápido dentro de você.

Superdosagem: Casos de superdosagem ocasionaram fugas de shoppings e buscas de maior contato com a natureza. Há registros de pacientes que ficam rindo à toa, e também de pessoas que começam a sentir necessidade de se alimentar com alimentos mais naturais. Alguns pacientes perderam o interesse por assistir novelas e noticiários. Em 100% dos casos acontece uma necessidade urgente de dançar, celebrar e meditar.
SIGA CORRETAMENTE AS ORIENTAÇÕES, CASO NÃO DESAPAREÇAM OS SINTOMAS PROCURE IMEDIATAMENTE UM TEMPO PARA SILÊNCIO E REFLEXÃO.

16 de agosto de 2009

Metade:Oswaldo Montenegro


Metade
Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

28 de julho de 2009

Como la cigarra



Como La Cigarra
Composição: María Elena Walsh (Letra y Musica)

Tantas veces me mataron
tantas veces me morí
sin embargo estoy aquí resucitando
gracias doy a la desgracia
y a la mano con punñal
por que mató tan mal
Y seguí cantando.

Cantando al sol como la cigarra
Después de un año bajo la tierra
igual que el sobreviviente
Que vuelve de la guerra.

Tantas veces me borraron
Tantas desaparecí
A mi propio entierro fuí
Sola y llorando
Hice un nudo en el pañuelo
pero me olvidé después
Que no era la única vez
y seguí cantando.

Cantando al sol como la cigarra
después de un año bajo la tierra
igual que el sobreviviente
que vuelve de la guerra.

Tantas veces te mataron,
tantas resucitarás
cuantas noches pasarás
desesperando.
Y a la hora del naufragio
y la de la oscuridad
alguien te rescatará
para ir cantando.

Cantando al sol como la cigarra
Después de un año bajo la tierra.
Igual que el sobreviviente
Que vuelve de la guerra.

Descobre-te


Abre-te profundamente
Rasga o véu do ressentimento e da busca insana da ira
Descobre em ti o mel que lhe afaga as palavras
Encontra tua essência, evoluindo
Busca, incessancessemente o alívio
Cura-te ainda que te doa, ainda que quase te afogues num mar de lágrimas
Toque em Deus, abraçando a energia de teu alcance
Acredita,renova-te sempre.


Fernanda Luz

Perdão


"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, "quebrei a cara" muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só pra escutar uma voz, me apaixonei só por um sorriso, já pensei que fosse morrer de saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)!

Mas vivi! E ainda vivo! Não passo pela vida... e você também não deveria passar! Viva! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO para ser insignificante."

Charlie Chaplin

30 de junho de 2009

Pensar é transgredir por Lya Luft


Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

Lya Luft

Pérolas de Mario Quintana


..Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer ...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos
todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas
as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Mário Quintana

16 de junho de 2009

Drummond, sempre Drummond...



Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai"?
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente sentimos.
Carlos Drumond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

9 de junho de 2009

Ter ou não ter namorado: Artur da Távola


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

2 de junho de 2009

Abissal


Há sonhos que se abandonam, brandamente
Num aeroporto, num cais
São névoas
Rasgadas por um raio
Lembranças que não voltam mais
E assim adormece tranquilo
No mar profundo,abissal
Os sonhos revoam assim inertes
Movidos nas profundezas do sal


Em homenagem aos passageiros do voo 447 Airbus
Fernanda Luz

31 de maio de 2009

Resista




Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejem
e que sua coragem esteja cochilando.

Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais.

Resista mais um instante, mesmo que a derrota seja um imã,
mesmo que a desilusão caminhe em sua direção.

Resista mais um pouco, mesmo que os invejosos digam para você parar,
mesmo que a sua esperança esteja no fim.

Resista mais um momento, mesmo que você não possa avistar ainda
uma linha de chegada, mesmo que as inseguranças
brinquem de roda à sua volta.

Resista um pouco mais, mesmo que a sua vida esteja sendo pesada
como a consciência dos insensatos e você se sinta indefeso
como um pássaro de asas quebradas.

Resista porque o último instante da madrugada
é sempre aquele que puxa a manhã pelo braço
e essa manhã bonita, ensolarada, sem algemas,
nascerá para você em breve desde que você resista.

Resista porque estamos sentados na arquibancada do tempo,
torcendo ansiosos para que você vença
e ganhe de DEUS o troféu que você merece:


Autor Desconhecido -

Espiritualidade, dimensão esquecida e necessária por Leonardo Boff


Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional, transmitida pela cultura dominante. Esta afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria (ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências do humano). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica de materia e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.

1. Espiritualidade concerne ao todo ou à parte?
Espiritualidade, nesta segmentarização, significa cultivar um lado do ser humano: seu espírito, pela meditação, pela interiorização, pelo encontro consigo mesmo e com Deus. Esta diligência implica certo distanciamento da dimensão da matéria ou do corpo.

Mesmo assim espiritualidade constitui uma tarefa, seguramente importante, mas ao lado de outras mais. Temos a ver com uma parte e não com o todo.

Como vivemos numa sociedade altamente acelerada em seus processos históricos-sociais, o cultivo da espiritualidade, nesse sentido, nos obriga a buscar lugares onde encontramos condições de silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização.

Esta compreensão não é errônea. Ela contem muita verdade. Mas é reducionista. Não explora as riquezas presentes no ser humano quando entendido de forma mais globalizante. Então aparece a espiritualidade como modo- de-ser da pessoa e não apenas como momento de sua vida.

Antes de mais nada importa enfatizar fato de que, tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos “totalidade” significa que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltipas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.

2. A exterioridade humana: a corporeidade
A exterioridade é tudo o que diz respeito ao conjunto de relações que o ser humano entretém com o universo, com a natureza, com a sociedade, com os outros e com sua própria realidade concreta em termos de cuidado com o ar que respira, com os alimentos que consome/comunga,com a água que bebe,com a roupas que veste e com as energias que vitalizam sua corporeidade. Normalmente se entende essa dimensão como corpo. Mas corpo não é um cadáver. É o próprio ser humano todo inteiro mergulhado no tempo e na matéria, corpo vivo, dotado de inteligência, de sentimento,de compaixão, de amor e de êxtase. Esse corpo total vive numa trama de relações para fora e para além de si mesmo. Tomado nessa acepção fala-se hoje de corporeidade ao invés de simplesmente corpo.

3. A interioridade: a psiqué humana
A interioridade é constituída pelo universo da psiqué, tão complexo quanto o mundo exterior, habitado por instintos, pelo desejo, por paixões, por imagens poderosas e por arquétipos ancestrais. O desejo constitui, possivelmente, a estrutura básica da psiqué humana. Sua dinâmica é ilimitada. Como seres desejantes, não desejamos apenas isso e aquilo. Desejamos tudo e o todo. O obscuro e permanente objeto do desejo é o Ser em sua totalidade. A tentação é identificar o Ser com alguma de suas manifestações, como a beleza, a posse, o dinheiro, a saúde, a carreira profissional e a namorada, o namorado, os filhos, assim por diante. Quando isso ocorre, surge a fetichização do objeto desejado. Significa a ilusória identificação do absoluto com algo relativo, do Ser ilimitado com o ente limitado. O efeito é a frustração porque a dinâmica do desejo de querer o todo e não a parte se vê contrariada. Daí, no termo, predominar o sentimento de irrealização e, consequentemente, o vazio existencial.

O ser humano precisa sempre cuidar e orientar seu desejo para que ao passar pelos vários objetos de sua realização – é irrenunciável que passe - não perca a memória bemaventurada do único grande objeto que o faz descansar, o Ser, o Absoluto, a Realidade fontal, o que se convencionou chamar de Deus. O Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões, mas o Deus da caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo, aquela dimensão sagrada em nós, inegociável e intransferível. Essas qualificações configuram aquilo que, existencialmente, chamamos de Deus.

A interioridade é denominada também de mente humana, entendida como a totalidade do ser humano voltada para dentro, captando todas as ressonâncias que o mundo da exterioridade provoca dentro dele.

4. A profundidade: o espírito
Por fim o ser humano possui profundidade. Tem a capacidade de captar o que está além das aparências, daquilo que se vê, se escuta, se pensa e se ama. Apreende o outro lado das coisas, sua profundidade. As coisas todas não são apenas coisas. Todas elas possuem uma terceia margem. São símbolos e metáforas de outra realidade que as ultrapassa e que elas recordam, trazem presente e a ela sempre remtem.

Assim a montanha não é apenas montanha. Em sendo montanha, traduz o que significa majestade. O mar evoca grandiosidade; o céu estrelado, infinitude; os olhos profundos de uma criança, o mistério da vida humana e do universo.

O ser humano capta valores e significados e não apenas fatos e acontecimentos. O que definitivamente conta não são as coisas que nos acontecem, mas o que elas significam para a nossa vida e que experiências elas nos propiciam. As coisas, então, passam a ter caráter simbólico e sacramental: nos recordam o vivido e alimentam nossa interioridade. Não é sem razão que enchemos nossa casa ou o nosso quarto de fotos, de objetos queridos dos pais, dos avós, dos amigos, daqueles que entraram em nossa vida e significaram muito. Pode ser o último toco de cigarro do pai que morreu de enfarte ou o pente de madeira da tia que morreu ou a carta emocionada do namorado que revelou seu amor. Aqueles objetos não são mais objetos. São sacramentos, pois falam, recordam, tornam presente significados, caros ao coração.

Captar, desta forma, a profundidade do mundo, de si mesmo e de cada coisa constitui o que se chamou de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele momento da conscicência mediante o qual captamos o significado e o valor das coiss. Mais ainda, é aquele estado de consciência pelo qual apreendemos o todo e a nós mesmos como parte e parcela deste todo.

O espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade. “Tu és isso tudo” dizem os Upanishads da India, apontando para o universo. Ou “tu és o todo” dizem os yogis. “O Reino de Deus está dentro de vós” proclama Jesus. Estas afirmações remetem a uma experiência vivida e não a uma doutrina. A experiência é que estamos ligados e re-ligados uns aos outros e todos à Fonte Originante. Uma fio de energia, de vida e de sentido perpassa a todos os seres, constituindo-os em cosmos e não em caos, em sinfonia e não disfonia.

A planta não está apenas diante de mim. Ela está como ressonância, símbolo e valor dentro de mim. Há em mim uma dimensão montanha, vegetal, animal, humana e divina. Espiritualidade não consiste em saber disso, mas em vivenciar e fazer disso tudo conteúdo de experiência. Bem dizia Blaise Pascal: “ crer em Deus não é pensar em Deus mas sentir Deus”. A partir da experiência tudo se transfigura. Tudo vem carregado de veneração e de sacralidade.

A singularidade do ser humano consiste em experimentar a sua própria profundidade. Auscultando a si mesmo percebe que emergem de seu profundo apelos de compaixão, de amorização e de identificação com os outros e com o grande Outro, Deus. Dá-se conta de uma Presença que sempre o acampanha, de um Centro ao redor do qual se organiza a vida interior e a partir do qual se elaboram os grandes sonhos e as significações últimas da vida. Trata-se de uma energia originária, com o mesmo direito de cidadania que outras energias como a sexual, a emocional e a intelectual.

Pertence ao processo de individuação acolher esta energia, criar espaço para esse Centro e auscultar estes apelos, integrando-os no projeto de vida. É a espiritualidade no seu sentido antropológico de base. Para ter e alimentar espiritualidade a pessoa não precisa professar um credo ou aderir a uma instituição religiosa. A espiritualidade não é monopólio de ninguém, mas se encontra em cada pessoa e em todas as fases da vida. Essa profundidade em nós representa a condição humana espiritual, aquilo que designmos espiritualidade.

Obviamente para as pessoas religiosas, esse Centro é Deus e os apelos que dele derivam é sua Palavra. As religiões vivem desta experiência. Articulam-na em doutrinas, em ritos, celebrações e em caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial reside em criar e oferecer condições para que cada pessoa humana e as comunidades possam fazer um mergulho na realidade divina e fazer a sua experiência pessoal de Deus.

Essa experiência porque é experiência e não doutrina tem como efeito a irradiação de serenidade, de profunda paz e de ausência do medo. A pessoa sente-se amada, acolhida e aconchegada num Utero divino, O que lhe acontecer, acontece no amor desta Realidade amorosa. Até a morte é exorcizada em seu caráter de espantalho da vida. É vivida como parte da vida, como o momento alquímico da grande transformação para poder estar, de fato, no Todo e no coração de Deus.

Esta espiritualidade é um modo de ser, uma atitude de base a ser vivida em cada momento e em todas as circunstâncias. Mesmo dentro das tarefas diárias da casa, trabalhando na fábrica, andando de carro, conversando com os amigos, vivendo a intimidade com a pessoa amada, a pessoa que criou espaço para a profundidade e para o espiritual está centrado, sereno e pervadido de paz. Irradia vitalidade e entusiasmo, porque carrega Deus dentro de si. Esse Deus é amor que no dizer do poeta Dante move o céu, todas as estrelas e o nosso próprio coração.

Esta espiritualidade tão esquecida e tão necessária é condição para uma vida integrada e singelamente feliz. Ela exorciza o complexo mais dificil de ser integrado: o envelhecimento e a morte.

Para a pessoa espiritual o envelhecer e o morrer pertencem à vida, não matam a vida, mas transfiguram a vida, permitindo um patamar novo para a vida. Assim como ao nascer, nós mesmos não tivemos que nos preocupar, pois, a natureza agiu sabiamente e o cuidado humano zelou para que esse curso natural acontecesse, assim analogamente com a morte: passamos para outro estado de consciência sem nos darmos conta dessa passagem. Quando acordamos nos encontraremos nos braços aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam. Cairemos em seus braços. E então nos perdemos para dentro do amor e da fonte de vida.


Leonardo Boff

Deve chamar-se tristeza



Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.


Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.


Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.


Fernando Pessoa

26 de maio de 2009

Sabedoria de Chico Xavier


Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.

Que eu não perca o OTIMISMO, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.

Que eu não perca a vontade de VIVER, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...

Que eu não perca a vontade de ter grandes AMIGOS, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...

Que eu não perca a vontade de AJUDAR as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.

Que eu não perca o EQUILÍBRIO, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.

Que eu não perca a VONTADE de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...

Que eu não perca a LUZ e o BRILHO no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...

Que eu não perca a GARRA, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.

Que eu não perca a RAZÃO, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.

Que eu não perca o sentimento de JUSTIÇA, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.

Que eu não perca o meu forte ABRAÇO, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...

Que eu não perca a BELEZA e a ALEGRIA de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...

Que eu não perca o AMOR por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.

Que eu não perca a vontade de doar este enorme AMOR que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.

Que eu não perca a vontade de ser GRANDE, mesmo sabendo que o mundo é pequeno... E acima de tudo...

Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois.... a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

Ser Diferente: Artur da Távola




Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.

Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros que riem de inveja de não serem assim.

O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas..... Esperanças, mortas.

Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem.

Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride.

O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual, a inveja do comum, o ódio do mediano.

O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.

O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos, por omissão, se unem para transformar o que é potencial em caricatura. O que é percepção aguçada em: "puxa, fulano, COMO VOCÊ É COMPLICADO".

O que é o embrião de um estilo próprio em: "você não está vendo como todo mundo faz?"

O diferente carrega desde cedo apelidos que acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.

Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno, agridem e gargalham.

É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha ou de malícia .

Artur da Távola * Alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. E....nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são CAPAZES.
Presente de minha amiga Cezarina Devos

22 de maio de 2009

Bons amigos



Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!


Machado de Assis

Olhos Ciganos


Tenho os olhos da cor da paisagem,
De mata e poeira,
Onde me doem as saudades de claros riachos
Que banharam meu rosto em outrora
E cuja água mansa apanhei com as mãos,
Como uma criança sedenta de vida.
Lembro-me que fui fecunda e luminosa;
Que me viram nua mornos lençóis de cambraia;
Que me foi mãe carinhosa a manta de estrelas
Em noites de estradas de terra, sem fim...
Que em tendas de esperança
Dormiu meu coração ligeiro;
Que fui égua alazã de caravana errante;
Que vivi amor pagão
Em tempos de dor e coragem...
Hoje, que me perco em ínfimos caminhos,
Por cuja posse ouvi ladrarem mil e um,
Fito meus olhos ciganos
Adivinhando o futuro num caco de espelho
No intento de ver se eu sou a que me segue
Ou se a que me arrasta.


Desconheço o autor!

Feitiço



Te jogo meu feitiço
na renda da minha saia
danço infrene em teu sonho
perfumo teu corpo com canela
afio tua lança
desembainho teu punhal
não há guerreiro que me negue seu descanso
não há sequer um rei
que não conceda seu trono a mim
me enfeito com meu ouro
deslizo as pulseiras em teu lombo
beba da minha taça
te afogues em meu desejo
audaz, vem manso, te possuo
esqueirando-se no meu altar de colina
prova do meu manjar divino
então, vem, vem dançar
neste frenesi de Baco
te entrega
nega teu deus algoz
vem, te entrega
queima teu desejo
te abandona nos meus braços
Vem...
que te ensino minha dança
ignoro teus mandatos
digo que a Lua te pertence
vem porque apenas te chamo
te quero quando quero
te possuo assim
mentindo que és meu dono...


Fernanda Luz

Agua caliente


E assim me chegas caliente
perfume de terra lavrada
deita-me na alcova sedento
arranca-me à sova o vestido
carmim, vermelho rubi
me canta teu canto cigano
das terras onde nasci
me sopras sereno o desejo
do corpo da alma kalin
lançado faminto em teu sonho
cabelo cheirando a jasmin
me entrego a ti, sorrateira
zombando e gritando por ti
na névoa de perfume morocho
bochorna de água caliente


Fernanda Luz

Fados cruzados


Nem Às Paredes Confesso
Composição: F. Trindade / M. de Souza / A. Ribeiro

Não queiras gostar de mim sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim eu não mereça
Vê se me deitas depois culpas no rosto
Eu sou sincera porque não quero dar-te um desgosto

De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar
Podes chorar
Podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso

Quem sabe se te esqueci ou se te quero
Quem sabe até se é por ti que eu tanto espero
Se gosto ou não afinal isso é comigo
Mesmo que penses que me convences nada te digo


Fado insone
Ai, que meu coração me tocou um fado deslavado
Desses que se rega a vinho,a uma noite na Mouraria
Ai, que me dói este coração além mar
Ai, que sinto teu cheiro nos lençóis de linho
Ainda que me punas, amado
Não te posso esquecer
Ainda que me negues
Te relembro assim, coração despedaçado.
Rastreando teus passos lejanos
Ai, que me toca esse furor
Esta febre amantíssima
Que me ferve a alma
Que deixa meu corpo trêmulo
Ai, que nem a água do Tejo me lava a alma...
Nem bons ventos me apagam
Os castiçais de teus olhos
Nem a boca olvida
O doce sabor de teu vinho
O intenso gosto de teu pão...

Fernanda Luz
Ilustração:José Malhoa in "Fado"

Ternura antiga:Dolores Duran



Ai, a rua escura, o vento frio
Esta saudade, este vazio
Esta vontade de chorar
Ai, tua distância tão amiga
Esta ternura tão antiga
E o desencanto de esperar
Sim, eu não te amo porque quero
Ah, se eu pudesse esqueceria
Vivo, e vivo só porque te espero
Ai, esta amargura, esta agonia

Cecilia Meireles


A maior pena que eu tenho, punhal de prata, não é de me ver morrendo, mas de saber quem me mata.
Cecília Meireles

Homenagem a Zé Rodrix, falecido hoje: 22/05/09



Casa no campo
Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais


O lirismo árcade de Zé Rodrix ecoou em minha adolescência, em que cantávamos feito cantiga de roda essa canção.Sou da geração de 60, sempre afeita às rodinhas de violão na escola.Entoávamos essa canção de coração aberto, desejando apenas esse ideal: o de ter uma casa no campo.Tempos cordialmente silenciosos, onde expressávamos em nossas vestimentas un new look hippie.Tempos em que não podíamos discutir em sala de aula política, pois a bedel, parecendo que intuía nossa discussão com a professora de História, vinha nos vigiar por aquelas janelinhas na porta da sala de aula.
E assim entoávamos essa canção, dentre outras de Beto Guedes, Sá e Guarabira, Vandré.
Hoje pulsaram em mim novamente esses momentos, vividos no início da década de 80.
Certamente, o Zé Rodrix não vai se perguntar "E agora, José?",pois acredito que tenha nutrido em si o ideal do "Carpem diem".
Elis tá aí contigo, Zé, e teus amigos já te preparam flores e festa na tua eterna morada, na tua Casa de Campo.
Fernanda Luz

14 de maio de 2009

13 de maio de 2009

Quase


Quase...
Luiz Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que lanejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Lua distante


Essa Lua ali, branda em minha janela
Ah, chegam os odores divinos do amor
Teu perfume de terra me chega
Toca minha face, beija meus lábios
Se apodendere de mim
Me mostra novamente os caminhos das estradas
Que me arrancaram ao punhal
Cura meu coração desta dor fervente
Me traz de volta à serenidade.
Toca seu canto de liberdade
Arranca de mim o véu da saudade
Me resgata a ti novamente
Me liberta desta lejania

Mensagem de Pai Benedito de Aruanda



Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso colocar seu amor em prática.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso sorrir a alguém que chora.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz não precisa mais do que seus braços e pernas.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso apenas o seu esforço próprio.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso persistir para conquistar.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que este ideal seja Cristão.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso caminhar de mãos dadas.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que compreenda mais as dificuldades.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso mais paciência perante os contratempos.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso ter fé em Deus e trabalhar pelo próximo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso dar esperança a quem já desistiu da vida.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso dar a luz do consolo aos desesperados.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que tenha conhecimento sobre si mesmo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz precisa pôr este conhecimento em sua reforma.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso que ele se desprenda de si mesmo.
Um dia o homem vai entender:
Que para ser feliz é preciso FAZER ALGUÉM FELIZ.
O mundo precisa de caridade!
O mundo precisa de amor!
O mundo precisa de Jesus!
O mundo precisa de você!

Presença


E me chegas de noite
Quando os ruídos se calam no abandono dos sonhos
Me envolve com tua voz suave de saudade
Me toca na pele, me acaricia as mãos...
Me faz serenar na tua alma cigana de longe
Que não pude tocar de verdade
Mas, estás, estás...
Não quero chorar quando te ouço
Não quero sentir saudades de ti
Ainda ontem reli tuas palavras de amor
E vontade de chorar, tive
O sopro de tuas palavras
O manso carinho da tua voz doce.
Sei que estás
Numa dimensão lejana
Sei que vives ainda
E que, de alguma forma estás aqui
Pude sentir as pétalas de rosas que me enviaste sobre meu corpo
Pude adormecer te ouvindo de longe
Tão perto...
Juízo não tenho para entender
Esse laço que nos atou
Ainda não entendo minha falta de coragem
Que atou meus pés que não me levaram a ti
Ainda sinto essa saudade de ontem
Ainda estou certa de nosso reencontro
Não maldigo tua partida
Pois chegaste nessas paragens estrelares antes de mim
Sim, sei que quando a Lua ilumina meus olhos
Estás também me iluminando
Sei que, em cada taça de vinho que tomo
Me adoças a boca com teu beijo
Sei que quando tomo meu punhal
Um pouco de tua força está nele
Sei que preparas meu leito junto a ti
Mas desconheço minha chegada
E como me doeu tua partida
E ainda me dói
Por vezes choro, por vezes quero esconder de mim essa tua falta.
Tua kalin permanece aqui.
Seguindo, por vezes tropeçando
Tua kalin tem força, amado
Tua kalin aprende diariamente a jogar sal na maldade
A bendizer a boa aventurança
Então,kalón
Aqui me quedo...
Nesta lembrança que me corrói...
Te deixo a rosa dos meus lábios
O perfume dos meus cabelos
O cálido toque de minhas mãos.


Fernanda Luz

Anima



A mi me regalao el core gitan
a mi me regalao el alma buyna
a mi me regalao el sangry amanti de la libertad
a mi me regalao el sognu de alegryhia
de pensar que pudo set
la misma de semper
una luna encantad
gusto de vino en la boca
miel de dulzura en el core
verytah en las palabras
kambuly en el core
vita plena
vita, soli
nim dimand, ni desdicha


Povo Cigano
Por Fernanda Luz
Pintura:Berezina Elena
http://www.art-vector.com

11 de maio de 2009

Alma de Loba



Há uma loba ferida, que sangra na noite e urra desesperada na lua cheia

Há um anjo bondoso com asas feridas, temeroso de alçar vôo sobre o leito escuro dos amantes

Há uma mulher escondida por baixo da pele morena, que ousa pulsar de desejo

Há uma fugitiva, que se esconde com medo de amar

Há uma deusa perfumada prestes a destilar seu perfume sobre a fronte dos homens vãos...

Há um sorriso pleno, que desemboca no desejo doce

Uma mancha na alma de perdição...

Há alguém, quem sabe, sedenta de beijos, mergulhada nos suspiros sufocados paridos numa noite de agosto...

Em mim se esconde a alma de uma desconhecida

Em mim se abre a concha da mais pura pérola...


Fernanda Luz

5 de maio de 2009

Dança do fogo



Oração do fogo

Sou fogo!!!!

Em todos os sentidos!

Do sol eu desço e das profundezas da Terra eu me lanço!

Derreto tudo e refaço e recombino a tudo.

Nunca estou quieto e nunca sou o mesmo.

Nos raios, nos relâmpagos, nos vulcões ou onde houver chama eu sou o brilho.

Meu brilho tem sido copiado e usado erroneamente pelos humanos.

Suas bombas e demais artefatos cospem morte!

Eu também mato! Mas só aquilo que precisa ser banido ou transformado.

Não mato por esporte e nem para mostrar a força que na verdade não tenho.

Sou forte e mesmo minha irmã Água pode sumir na minha presença se assim for necessário.

Eu sou as paixões que ardem em seus corações. Eu sou o sentimento que habita seus corações.

Sou o destemor, o espírito da aventura que faz do seu lar o coração.

Sou a coragem de ousar. Sou a chama do amor.

Sou a destruição na forma de raios ou de vulcões, por exemplo!

Eu limpo para trazer novas formas de vida. Eu queimo o que precisa ser purificado.

Sou a inspiração que os espíritos precisam.

Não sou ignorante e nem me arvoro o mais sábio dos seres. Eu não sou tolo e nem me faço passar por um.

Humanos!!!!!

Somos todos habitantes do mesmo Universo! O que os faz pensar que são os donos do mundo?

Acaso podem superar algum de nós, os elementos?

Será que não notam que jogamos seu jogo apenas para mostrar o quanto estão errados?

Será que precisarão ver a morte para redescobrir o valor da vida?

Será que nossas repetidas investidas usando seus próprios modelos de vida não os alerta?

Será que suas invenções são mais importantes do que vocês?

Será que por um acaso ainda acham que podem viver de lata? De plástico?

Será que o Criador deu-lhes este planeta para que o destruam?

Para que fabricar tanta coisa inútil que poucos utilizarão? Para aumentar o ódio?

O fogo do ódio corrói! O fogo do amor purifica!

Convoco todos os seres do fogo para que seus corações humanos voltem a brilhar!

Convoco todos os seres do fogo para que seus espíritos voltem a inspirar suas ações!

Convoco todos os seres do fogo para que purifiquem o planeta!

Em nome de todos os elementos eu convoco a todos os seres para que iluminem os seres humanos!

Faça-os perceber que seus atos os levam cada vez mais para a destruição e dor desnecessárias.

O amor ainda é o maior de todos os remédios! Amem novamente e terão suas doenças curadas!

Iluminem-se humanos!!!!!



http://br.geocities.com/buluccib/fogo.html

Bandoleiro: Ney Matogrosso



Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Não te enganarias, não te enganarias
Não te enganarias, não!
Fossem ciganos a levantar poeira
A misturar nas patas
Terras de outras terras, ares de outras matas
Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado
Na mão direita o fado
Jogando sementes nos campos da mente
E se falasses magia, sonho e fantasia
E se falasses encanto, quebranto e condão
Feitiço, transe-viagem, alucinação

Canto Cigano por Cecília Meireles



Seus cabelos,
Balançavam com o vento.
Ela dançava,
Dançava de dia,
Dançava de tarde,
Dançava à noite.
À noite,
Enquanto os archotes brilhavam,
E punham nela muitos fulgores,
Ela sorria e sorria...
Para quem sorria?
Para ninguém.
Bastava, para ela,
Sorrir para si mesma.
Sorria...
Sufocando o pranto,
Que lhe inundava a alma.
Porque, se ela chorasse,
Todos choravam também.
E ela tinha que sorrir,
Cantar,
Dançar.
Bailando,
Como baila o vento,
Cantando,
Como cantam as aves,
Só, tão só...
E, no entanto, dona absoluta,
De todos os olhares,
De todas as mentes,
Que estavam ali.
Cada um achando,
Que era para eles que ela sorria,
Quando, na verdade,
Ela não sorria para ninguém,
Ela sorria para si mesma.
O tempo passou...
E, no vento tão forte,
Que muda a vida,
Mudando as pessoas de lugar,
Daqui para acolá.
Um dia,
Ela deixou de dançar,
Mas não deixou de cantar.
Mesmo na solidão dos pinheiros gelados,
Fazia, com os rouxinóis,
Um dueto encantado.
O rouxinol cantava de tristeza,
Ela cantava de saudade,
De dor...
Por onde andará?
Como estará a terra dos meus amores?
Aonde estarão aqueles,
Que pisam, firme, o chão?
Aonde estará o meu povo?
Será que estão como eu...
Na solidão?
Canta, cigana,
Canta...
Deixa que o vento da vida de carregue,
Que a brisa te abrace
E que as folhas te teçam harpejos,
Nos ninhos dos pássaros.
A solidão nos faz
Aprender a viver,
Dentro de nós,
Num castelo encantado.
Onde se é possível,
Chorar sozinha
E rir, feliz,
Para todos os passantes,
Caminhantes,
Andantes de muitas terras,
De muitos sonhos,
De muitas estradas.
Deixa voar,
O seu sonho de paz,
Porque, um dia, você terá.
Não chore,
Não chore, cigana,
Cante.
Porque, mesmo sem cantar,
Você encanta.
E, mesmo chorando,
Você sorri.
Deixa o tempo passar,
Deixa as folhas voarem,
Voar...
Porque, um dia,
Paz você terá!


Cecília Meireles
Arauto de Luz - Junho de 2000
Psicografia Shyrlrene Soares Campos

Bela mensagem

4 de maio de 2009

Cigana de mim


Voltei ao meu mundo, como se me parisse de novo dentro de um véu de fogo
Estou de volta, nesta ciganidade
Dona do meu mundo
Livre de apego
Aquecida na fogueira única do meu desejo
Apenas sou
Com a certeza de que sei onde piso
Na comunhão do meu povo
Ciente de quando devo prosseguir e abandonar velhos caminhos
Na certeza de que sou capaz de recomeçar sempre
Com coragem, bravura
Nesta estrada poeirenta
Onde monto meu cavalo
Mostro meu punhal para lutar
Sigo minha força ancestral
Pulsando firme e alerta

Fernanda Luz

27 de abril de 2009

Carta de um cigano apaixonado


Carta de un gitano apasionado
Yo te sembré em mi corazón como mi diosa gitana
Pero el destino ingrato me sacó de ti antes mismo que yo pudiese tenerte en mis brazos, volviendo a retomar nuestra vida en un pasado lejano.
Tu sonrisa así me quedó como una luz del sol en la mañana de Primavera.
Deseé tocar tu rostro, sentir tu perfume, besar tus manos y tomarte en mi corazón eternamente, calin.
Triste daquel que espera tanto para irse hasta al que desea
Pobre y miserable lo que dispone de reglas para amar o encantarse
Nadie está imune a la fuerza del amor, entonces, sigue y no te deje lo que mas desea.
Ábrete sencillamente al eterno a esa tenue energia de cariño, de deseo que nos hace vibrar todo el cuerpo y alma.
Tu sabrás cuando están amándote, muchos te aman a la distancia y pronto te llegarán.
No niegue amor y toda la paz de tu corazón de gitana, con esa dulzura de los días amenos, con este calor que pulsa de tu cuerpo y de tu corazón, con esa luz insana que brilla de tus ojos morenos, toca y se deje lleve a los pocos esa tu calidez de tus labios.
Pulsa tu deseo en el cuerpo de los que te merecen.
Ame en la raiz de la palabra, hágate amor
Libera a los corazones que te deseen, gitana.
Tu dulzura y encanto firmarán en mi pensamiento.
Pero te dejo sin volcarme al engodo del egoismo de los que no saben amar.
Te dejo así, blanda y pura.
Mira, tu cuerpo es limpio de lujuria, tu ala es el carmin del sol que se pone.
Ama, entrégate sin miedo.
Que persigas tus sueños encantados de amor.
Diós te ensenãrá los que a ti te merecen.
No deja las lágrimas del arrepentimiento mezclarse al dulce perfume de tu carmin.
Mi gitana.
Te quiero mucho.
SP 11/12/08
Un gitano
Recebida por Fernanda Luz


Tranquila...


Assim, quando me apercebo das presenças que se acendem em minha vida
Doces sopros de gente que sofre, que luta, evolui e não alardeia
Nestes instantes divinos que lições me são mostradas diariamente
De gente que guerreia,que chora sozinha
Que constrói e tece seu dia devagar, nas sagradas horas desse tempo que se esvai rapidamente.
Dessa forma, os vejo criando aos poucos seus sonhos, desfazendo-os e criando-os, com colcha de retalhos de sua dura vida...
Seu fardo pesado, mas carregado com alegria e fé.
Creio naqueles que não desistem jamais e tem consagrado a sagrada palavra de Deus em seu coração.
Creio nessa divindade que me mostra o caminho, ainda que espinhoso
Pois sei que esse é meu caminho.
E nesse meu caminho encontro algumas máscaras que se desfazem no espelho da verdade
Ouço palavras mentirosas, que ingenuamente insulflam um ego dissonante
Assim, vejo os que se reencontram nesta jornada apenas para compartilhar suas dores e agregar suas vidas na minha...
Hoje, escolho quem serão meus companheiros de jornada, aqueles que estão perto de mim não só para repartir o doce, mas deixar o amargor mais suave, quem sabe?
Não aceito mais as amizades que têm como fundamento uma fatura futura.
Meu coração é liberto de preconceitos. e deixa-se navegar na minha liberdade assim à toa.
Não temo a solidão, ela me traz evolução.
Não temo o dizer "não", isso me faz analisar melhor o "sim" eterno de deixar que se aconcheguem na minha morada, no meu coração aqueles que sabem repartir do carinho verdadeiro, sem que me cobrem ou me ofereçam seu apego cortante.
E assim navego, assim caminho, assim evoluo tranquilamente.
Não tenho mais a vontade de prender ninguém em meu caminho que não seja o que deseja compartilhar viver paralelamente, sem desgastes emocionais, sem críticas malfazejas.
Preciso viver tranquila, em paz e tendo em mente que cultuo meu divino santuário- coração com que vale à pena.
Sigam seus caminhos os que tentam me podar ou que têm em si a curiosidade violenta de ver-me tropeçando.

Fernanda Luz

Aprendi e Decidi (Walt Disney)



E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...

Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.

Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.

Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.

Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.

Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.

Naquele dia, descobri, que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.

Deixei de me importar com quem ganha ou perde, agora, me importa simplesmente saber melhor o que fazer.

Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir.

Aprendi que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de chamar a alguém de "Amigo".

Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida".

Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser a minha própria tênue luz deste presente.

Aprendi que de nada serve ser luz se não vai iluminar o caminho dos demais.

Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos são somente para fazer-se realidade.

E desde aquele dia já não durmo para descansar... Agora simplesmente durmo para sonhar.

15 de abril de 2009

Toada de boiadeiro


Meu chicote é só pra anunciar a boiada que vem chegando, trazendo bons tempos de fartura e abundância.
Toco meu aboio, sigo em paz e feliz pelas lutas vencidas nesse mundo afora.
Trago as mãos calejadas de semear por onde caminhei...
Muitos desejaram que eu esmorecesse, mas sigo com força e fé em Nossa Senhora.
Sigo, sabendo que sou merecedor
Sigo, na busca do além, do sol
Vejo em seus olhos uma alegria que há tempos não havia
Pois colocas de novo flores na janela e cantarolas suavemente
Mereces esses momentos de paz e contentamento, sabendo que as travas de seu caminho foram dissipadas por tua fé.
Hoje de consolo tens meu alento de boiadeiro
Meu abraço cheirando à terra
Meu sorriso largo
Tomo minha aguardente a mirar tua colheita
Não estivestes solitária em tuas buscas
Ainda que te faltassem amigos de verdade
Ainda que a falsidade se escondesse atrás das moitas
Tivestes fé e prosseguiste...
Seguindo, pé na estrada...
Observei teu fervor
Tua vontade de seguir sob as tempestades
Assim, doce morena
Abraço-te firmemente
Abrindo teus caminhos com minha boiada
Com a força de meu chicote para abrandar o inimigo implacável
Deixo-te agora, nesta sagrada hora da Ave Maria
Com o sopro bando de alento e proteção.

Inácio da Porteira: boiadeiro
Por:Fernanda Luz

14 de abril de 2009

Dom Hélder se manifesta por meio de psicografia




"NOVAS UTOPIAS

Recentemente foi lançado no mercado cultural um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois da morte, atribuído, justamente, ao Espírito Dom Helder Câmara, bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, desencarnado no dia 28 de agosto de 1.999 em Recife, Pernambuco.É do conhecimento geral, principalmente dos católicos brasileiros: Dom Elder Câmara foi um dos fundadores da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro, cuja luta, nesse processo político da nossa história, o notabilizou no mundo todo, como uma das figuras mais expressivas do século XX, na defesa dos fracos contra a tirania dos fortes e dos pobres contra a usura dos ricos. Pregava uma igreja simples voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi indicado quatro vezes para o prêmio Nobel da Paz.
Em 1969 - Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. Este mesmo título foi-lhe conferido por diversas universidades brasileiras e estrangeiras: Bélgica, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos. Foi intitulado cidadão honorário de 28 cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau, na Suiça e Rocamadour, na França.
Recebeu o prêmio Martin Luther King, nos EUA e o prêmio Popular da Paz, na Noruega e diversos outros prêmios internacionais.
Por isso, o livro psicografado pelo médium Carlos Pereira, da Sociedade Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte, causou muita surpresa no meio espírita e grande polêmica entre os católicos. O que causou mais espanto entre todos foi a participação de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, que durante nove anos foi secretário de Dom Helder Câmara, para a relação ecumênica com as igrejas cristãs e as outras religiões. Marcelo Barros secretariou Dom Helder Câmara no período de 1.966 a 1.975 e tem 30 livros publicados.Ao prefaciar o livro Novas Utopias, do Espírito Dom Helder, reconhecendo a autenticidade do comunicante, pela originalidade de suas idéias e, também, pela linguagem, é como se a Igreja Católica viesse a público reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao negar a veracidade do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos, e desse ao livro de Carlos Pereira, toda a fé necessária como o Imprimatur do Vaticano. É importante destacar, ainda, que os direitos autorais do livro foram divididos em partes iguais, na doação feita pelo médium, à Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao Instituto Dom Helder Câmara, de Recife, o que, aliás, foi aceito pela instituição católica, sem nenhum constrangimento.
No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo e teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável da historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados a Igreja Católica. Conforme eles mesmos disseram, essa obra talvez não seja uma produção direcionada aos espíritas, que já convivem com o fenômeno da comunicação, desde a codificação do Espiritismo; mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da militância católica, que é chamada a conhecer a verdade espiritual, porque "os tempos são chegados"; estes ensinamentos pertencem à natureza e, conseqüentemente, a todos os filhos de Deus.
A verdade espiritual não é propriedade dos espíritas ou de outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque, tenha chegado o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a existência espiritual, a vida depois da morte e a comunicação entre os dois mundos.
Na entrevista com Dom Helder Câmara, realizada pelos editores, o Espírito comunicante respondeu as seguintes perguntas sobre a vida espiritual:Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente um padre?Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo físico, continuo como padre porque penso e ajo como padre. Minha convicção à Igreja Católica permanece a mesma, ampliada, é claro, com os ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível, para o bem da humanidade.
Do outro lado da vida, o senhor tem alguma facilidade a mais para realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento ou ainda encontra muitas barreiras com o preconceito religioso?
Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades de relacionamento, porque os pensamentos continuam firmados, cristalizados em determinados pontos que não levam a nada. Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma sintonia.
Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição de desencarnado?Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles que passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo sistema que subtrai liberdades, enriquece a poucos e colocam na pobreza e na miséria muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam semelhantemente a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento da humanidade.
Como é sua rotina de trabalho?
A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me, porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver atividades para as quais nos colocamos à disposição. Há grupos que trabalham e que são organizados para o meio católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração. Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço com muito prazer.
Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual foi a sua maior alegria?Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que não deixaria de existir. Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos quais devotamos o máximo de nosso apreço e consideração e continuar a trabalhar, é uma grande alegria. A alegria do trabalho para o Nosso Senhor Jesus Cristo.O senhor, depois de desencarnado. Tem estado com freqüência nos centros espíritas?Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os hospitais; as casas de saúde; são lugares onde o sofrimento humano se faz presente. Naturalmente vou à igreja, a conventos, a seminários, reencontro com amigos, principalmente em sonhos, mas minha permanência mais freqüente não é na casa espírita.
O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre este ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no livro. O que posso dizer é que Deus age conforme a sua sabedoria sobre as nossas vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas experiências, isso será um processo natural.
Mediunidade - Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas têm da vida, para que elas percebam que continuamos a existir e que essa nova visão possa mudar profundamente a nossa maneira de viver.
Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente como me adaptar ao médium para poder escrever. É necessário que haja uma aproximação muito grande entre o pensamento que nós temos com o pensamento do médium. É esse o grande de todos nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos intuindo a ele. No início foi difícil, mas aos poucos começamos a criar uma mesma forma de expressão e de pensamento, aí as coisas melhoraram. Outros (médiuns) pelos quais tento me comunicar enfrentam problemas semelhantes.Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escrita mediúnica?Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse tempo e oportunidade.
Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever mediunicamente, relatarem suas impressões da vida espiritual. Por que Dom Helder é quem está escrevendo?
Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus irmãos da Terra que a vida continua e que não paramos simplesmente quando nos colocam dentro de um caixão e nos dizem "acabou-se". Eu já pensava que continuaria a existir, sabia que haveria algo depois da vida física. Falei isso muitas vezes. Então, sentir a necessidade de me expressar por um médium, quando estivesse em condições e me fossem dadas as possibilidades. É isto que eu estou fazendo.
Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso país?Sim. E não poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida física. Não o fazem por puro preconceito de serem ridicularizados, de não serem aceitos, e resguardam as suas sensibilidades espirituais para não serem colocados numa situação de desconforto. Muitos padres, cardeais até, sentem a proteção espiritual nas suas reflexões, nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo, que na verdade são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e colaboram nas suas atividades.
Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele por conta de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar foi muito fácil, até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar sobre a minha última vida física. Então ficou mais fácil transmitir-lhe as informações que fizeram o livro.
O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras pela mediunidade?Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as comunicações. Este é o nosso propósito.
É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos espíritas quando na vida física?
Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa Igreja, por si só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo, fazermos contato com o plano físico depois da morte seria uma conseqüência natural. Pensamentos espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo de constrangimento em ter negado alguns pensamentos espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências íntimas espirituais.
Igreja - Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente tem um grau evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se reconhecem rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez, pela sua moralidade. Não quero dizer que na Terra isto não ocorra, mas do lado de cá da vida isto é tudo mais transparente; nós captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se faz somente com um cargo transitório que se teve na vida terrena, mas, sobretudo, pelo avanço moral.
Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro, representando o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma responsabilidade enorme para qualquer ser humano. Então fica muito fácil, para nós que estamos de fora, atribuirmos para quem está ali sentado, algum tipo de consideração. Não é fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas materiais, mas descobri que as espirituais ainda em maior grau. Eu posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização da Igreja; defendi isso durante minha vida. Mas tenho que admitir, embora acredite nesta visão ideal da Santa Igreja, que as transformações pelas quais devemos passar merecem cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução. Queira Deus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI) possa ter a lucidez necessária para poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.
O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu papel?Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço. Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida, possuímos uma visão mais ampliada das coisas. Determinados posicionamentos que tomamos, podem não estar em seu melhor momento de implantação, principalmente por uma conjuntura de fatores que daqui percebemos. Isto não quer dizer que não devamos ter como referência os nossos principais ideais e, sempre que possível, colocá-los em prática.
Espíritas no futuro?
Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.
Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão cooperando com o progresso do Brasil no mundo espiritual?
Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as localidades. Então, dizer um nome ou de outro seria uma referência pontual porque há muitos, que são poucos conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.
Amor - Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos agora depois da morte?
Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.
Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e católicos ou qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é feita por nós não pelo Criador. São aceitáveis porque demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto, a convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois devemos unir os nossos esforços.
Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira geral?Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor Ela é a única e principal mensagem que se pode deixar. "

Livro: Novas Utopias
Autor: Dom Helder Câmara (espírito)
Médium: Carlos Pereira
Editora: Dufaux
site: http://www.editoradufaux.com.br/

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